Água para Elefantes, de Sara Gruen

Ficha Técnica

Autor: Sara Gruen

Editora: Sextante

Em Água para Elefantes o leitor é cúmplice de um romance arrebatador e inquietante.


Logo no início conhecemos um ancião um tanto rabugento. Aos 90 ou 93 anos, viúvo e ranzinza, Jacob reside em uma casa de repouso. Em seguida, estamos viajando através de suas lembranças até um mundo tão fantástico quanto nebuloso. 


Aos 23 anos, pouco antes de concluir a faculdade de veterinária, acidentalmente entra em um vagão de trem do Circo dos Irmãos Benzine- O maior espetáculo da Terra. Sem família, dinheiro e terrivelmente confuso, Jacob passa a trabalhar para eles, cuidando dos animais. Não foi difícil descobrir que nos bastidores o circo era um espetáculo cruel. É certo que com o tempo ele foi ficando cada vez mais envolvido com a cultura circense, mas o principal motivo que o fez suportar as situações precárias, as humilhações e o humor bipolar de seu chefe imediato, August, foi se descobrir apaixonado por duas damas: A primeira bela, roubou seu coração por ter o olhar mais doce do mundo, com seus três metros de altura e algumas toneladas,  atendia pelo nome de Rose e era uma elefanta. A segunda era Marlena, muito mais baixa e esbelta, a estrela do show, casada com o último homem com quem Jacob deveria arranjar inimizade, August.


As personagens, até as coadjuvantes, são completas. Jacob, em sua juventude, tinha uma certa inocência típica dos tempos de pudores rígidos do início do século passado. Já na velhice, revelou um humor ácido e irônico. Até os animais conseguem sensibilizar o leitor. Como não amar Rose quero um elefante pra mim e temer August? .


Preciso salientar a narrativa. O que poderia ser considerado vulgar, pelo uso de termos e palavrões, soa muito natural. É preciso lembrar que viajamos pela lembrança de um homem e a narrativa é essencialmente masculina. Os sentimentos, conflitos e a natureza viril é praticamente palpável.


Esse é o livro que parece ter aplicado super bonde  nas folhas. Não é possível desgrudar os dedos tampouco os olhos. Às quatro horas da madrugada eu estava virando a última página. Não podia esperar até o dia seguinte para ler o final. Sonhei com a história. Na manhã seguinte,  consultei alguns trechos, a dedicatória a biografia, cada vez mais encantada. Havia um circo muito vivo em mim. E então, não pude discordar da frase que resume exatamente a minha sensação. 


"Água para Elefantes é tão envolvente que seus personagens continuam vivos muito depois de termos virado a última página."


E querem saber o mais estranho? Eu detesto circos. Eu tenho medo de palhaços. Nunca gostei de animais em espetáculos, pois sempre soube o quanto eram torturados. Imaginem minha surpresa ao ser arrebatada justamente por uma história que reúne tudo o que sempre repudiei.


Rasguei seda, eu sei, mas por merecimento. Sara Gruen transformou um livro em uma obra de arte. É preciso ler para entender. 

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